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Entrevistas

Entrevista com Ramon Porto Mota

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Ramon Porto Mota é um dos cineastas por trás da Vermelho Profundo, produtora de filmes sediada em Campina Grande, interior da Paraíba. Nomeada em homenagem ao clássico giallo “Prelúdio para Matar” (Profondo Rosso), de Dario Argento, a empresa é especializada em filmes de horror, suspense, ficção científica e faroeste, que são os gêneros preferidos de Ramon e seus sócios, Ian Abé, Jhésus Tribuzi e Fabiano Raposo. Ramon tem histórico como cineclubista e essa cinefilia fica bastante evidente em seus filmes. “O Hóspede” (2011), curta-metragem em preto e branco, é uma ficção científica intimista sobre invasão e paranoia ao estilo de “Vampiro de Almas” (1956), de Don Siegel. No curta “O Desejo do Morto” (2013), um homem obcecado com a própria morte arranja os detalhes de seu funeral. Ambos os filmes são protagonizados por Fernando Teixeira, ator paraibano que reaparece em “O Nó do Diabo” (2018), ousado projeto que mostra cinco episódios que se passam entre 1818 e 2018, todos com histórias relacionadas à escravidão, desde como ela se manifesta hoje em dia, voltando ao período escravagista. O personagem de Teixeira permeia as histórias, como uma figura sobrenatural à maneira do personagem de Othon Bastos em “O Longo Caminho da Morte” (1971), de Julio Calasso. Em 2019, Ramon lançou o seu primeiro longa-metragem, “A Noite Amarela”, um horror existencial sobre um grupo de jovens que, em meio às comemorações do término dos exames do ensino médio, se dá conta da inevitabilidade da morte. Os curtas de Ramon estão disponíveis on-line, no Vimeo da Vermelho Profundo, e os longas estão em cartaz nos serviços de streaming. Leia a seguir o bate-papo que tivemos com Ramon.

Still do filme “A Noite Amarela”.

01. Quando você começou a trabalhar com cinema? E quando começou a se interessar pelo fantástico?

Foi quando abriu o primeiro edital de filmes aqui na Paraíba, em 2009. Agora sobre fantástico, não sei bem. Na minha adolescência, talvez.

02. Poderia contar brevemente sobre como surgiu a Vermelho Profundo?

Uma ação entre amigos que queriam se organizar pra fazer uns filmes juntos. A coisa mais simples possível, nem graça tem. =/

03. Na produtora você tem várias funções: diretor, roteirista, montador e produtor. Você tem uma predileção por alguma destas funções? Por quê?

Não especialmente. Isso aconteceu mais por necessidade do que por qualquer outra coisa, dentro da nossa realidade era o que a gente tinha que fazer pra se virar e fazer uns filmes no início da década passada aqui no interior da Paraíba.

04. Por que contar histórias de horror?

Acho que nenhuma outra forma de contar histórias é mais adequada ao mundo em que a gente vive hoje. E nem precisava do covid-19 pra poder dizer isso. Agora com ele por ai, enfim, parece que a realidade foi sequestrada completamente por esse set piece básico de filme de horror, quando o monstro ainda não deu as caras completamente. De um ponto de vista particular, eu não saberia responder racionalizando, e mesmo por um lado emocional, por que a gente gosta do que a gente gosta? Enfim, acho histórias de horror um negócio assim, show!

05. Seus filmes têm uma certa artificialidade, uma inverossimilhança que mesmo dentro do fantástico provocam estranhamento. Por que você faz uso desses elementos?

Meus filmes, intencionalmente, não se passam nessa realidade em que a gente vive, então, possível que deixem essa impressão. Mas assim, não costumo refletir sobre essas duas questões quando monto algum esquema narrativo. Verossimilhança especialmente, já que eu tô com Hitchcock nessa: “não me interessa”; também acho que é uma questão de filme em si, e não de filmes em geral: o que é pra um não é pra outro. Sobre artificialidade, se a gente tá falando de ausência de naturalismo, aí faz muita parte. Justo porque eles não se passam nesse mundo. Na Noite Amarela isso era muito importante pro filme pois me interessava que aqueles personagens se comportassem como se estivessem num mundo dos sonhos, como se falassem coisas que alguém mandou eles falarem. Mas eu não penso como artificialidade, mas sim como um universo particular.

06. De que maneira seus filmes se relacionam com o Nordeste?

Veja bem, eu sou separatista, então a palavra Nordeste é sensível para mim. Também é um coisa ampla, complexa e cheia de subterfúgios né? Além de ser terrivelmente mal compreendida – especialmente por quem mora do sertão de minas pra baixo. Agora assim, meus filmes certamente fazem parte dele de algum modo, por que são filmados aqui, atuados por atores e atrizes que são daqui, refletem minha visão de mundo que sou daqui. Mas também não se relacionam com várias outras coisas que também são entendidas por Nordeste. Nesse caso, eu não sei bem onde o Nordeste é determinante ou especial no que eu filmo para além de ser o lugar onde eu filmo.

07. Qual seu filme favorito?

Um filme? Um é maldade… Mas se fosse 100 não deixaria de ser também, então vou deixar aqui o melhor filme que eu vi esse ano:

https://www.instagram.com/p/B-F93lZnBdZ/

Pesquisadora, crítica, curadora e realizadora cearense radicada em São Paulo, escreve regularmente sobre filmes para livros, encartes de homevideo e catálogos de mostras, além de integrar curadorias e júris de festivais pelo país. Doutoranda em Comunicação Audiovisual (UAM-SP) com doutorado-sanduíche na Universidade de Sorbonne (Paris), ministra palestras e cursos livres sobre cinema. Criou em 2017 a revista eletrônica Les Diaboliques, onde compartilha sua paixão pelos filmes de horror.

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